“Quando comunicas com alguém, como é que tu escutas o outro?
Escutas para lhe responder ou para o ouvir?”
ESCUTAR PARA RESPONDER
Fomos educados para responder. Na escola, ensinaram-nos a procurar as respostas certas. Em casa, ensinaram-nos ter razão.
Esta maneira de escutar não permite, realmente, ouvir o outro.
Quantas vezes acontece ver duas pessoas a falarem ao mesmo tempo? Afinal, não É isto uma discussão?
Costumo usar a imagem do tubo da comunicação, um tubo que liga o emissor e o recetor. Falando um de cada vez, a informação chega ao outro completa. Falando os dois ao mesmo tempo, a informação vai entupir o tubo, e a informação não chega ao outro. Quando isto acontece, está aberto o caminho para o desentendimento e o conflito. Não é por as pessoas serem más, é porque não se dão conta do que está a acontecer, ou ainda têm dificuldade em fazer diferente.
Numa aula ao final do dia, numa turma de 10º ano, à terceira vez que eu pedia silêncio a um aluno que não parava de conversar com os colegas do lado e de trás, ele começou a responder-me e a argumentar antes que eu tivesse terminado, dizendo que não era só ele. Perguntei-lhe “Já reparaste que estás a falar ao mesmo tempo que eu?” Ele parou e disse-me “É verdade, não tinha reparado”, e a partir daquele momento ele parou de conversar.
Quando escutamos para responder, o nosso foco está em nós. Habitualmente queremos ter razão, ou queremos que as coisas sejam feitas à nossa maneira. Em família, com os nossos filhos, é habitual querermos que eles façam as coisas à nossa maneira, porque julgamos que é a mais certa, ou a única.
Escutar para responder é um exercício mental, não promove a conexão e a aproximação das partes.
É isto que fazemos nas redes sociais. É rápido e fácil, mas é muito pobre.
Estamos a aprender a fazer diferente, a escutar para ouvir.
ESCUTAR PARA OUVIR
Escutar para ouvir o outro é muito mais do que falar um de cada vez. É estar presente, em silêncio, e ver para além das palavras, ver o que o outro está a sentir e o que é importante para ele naquele momento.
Escutar para ouvir não é uma atitude passiva, Pelo contrário, requer toda a nossa atenção e presença.
Quando adotamos esta postura, assumimos uma posição de poder, um poder capaz de resolver os maiores conflitos. Uma mãe, que se tinha acabado de divorciar, estava a ser rejeitada pelos dois filhos. Um dia perguntei-lhe “Queres falar sobre a relação com os teus filhos?” e fiquei a escutá-la. Não lhe dei nenhuma solução, apenas fui fazendo perguntas de conexão. Depois de choros e silêncios e mais choros, veio uma leveza que transparecia dos seus olhos. É este o poder da escuta, o poder de pacificar o outro!
Quando escutamos para ouvir, o nosso foco está no outro, e o que nós buscamos não é a resolução de nenhum problema ou conflito, é a conexão.
Quando conseguimos a conexão com o outro, abre-se um vasto campo de possibilidades e a solução para os conflitos surge naturalmente.
Escutar para ouvir é um exercício de empatia, que promove a conexão e a aproximação das partes. Requer tempo e disponibilidade interior, mas ambas as partes saem muito enriquecidas.
UMA IDEIA MUITO IMPORTANTE
Se queres resolver um conflito, não busques a sua solução.
Busca a conexão com a pessoa com quem tens o conflito, e a solução acontece.
UMA IDEIA AINDA MAIS IMPORTANTE
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Olá, boa tarde António! Me chamo Adriana Rosa, sou brasileira e vivo na cidade de Brasília.
Teu texto me fez lembrar do quanto eu já fui e nos últimos 5 anos retornei a prestar atenção em mim mesma e resgatar a pessoa que fui , a pessoa que escuta para ouvir.
Eu costumava brincar com amigas, que eu tenho cara de confessionário : por que as vezes as pessoas chegam em mim, sem termos uma intimidade maior de amizade e começam a conversar e em pouco tempo eu sei de coisas, fatos e traumas , que não foram revelados aos seus terapeutas , psicólogas ou mesmo familiares. Lendo teu texto comecei a relembrar da minha vivência com pessoas, no trabalho e de como essa característica em mim, de escutar as pessoas com qualidade e atenção , sempre me acompanharam. Gratidão pela reflexão que o teu texto que me proporcionou .